Quaresma!
Tempo maravilhoso de aprendizagem, de cortar com o que temos de pior nos nossos
comportamentos de todos os dias.
Ainda que
pensemos que tudo está bem… ao olhar mais profundamente encontramos sempre algo
a mudar, a converter!
Uma das
coisas que mais me preocupou sempre nesta época foi o jejum e abstinência. E
continua a preocupar-me e deixar-me dividida.
Quer
queiramos ou não, as nossas raízes não mudam com facilidade.
Fui criada
num ambiente em que tudo o que a Igreja decretava era levado muito a sério, e
as refeições encurtadas nos dias de jejum e a carne suprimida nos dias de
abstinência eram uma constante.
Agora… o que
será de facto o verdadeiro Jejum e abstinência deixa-me perplexa.
Se por um
lado me consome interiormente o que aprendi e vivenciei em criança e jovem, por
outro a verdadeira razão do jejum e abstinência levam-me a pensar nas devidas
mudanças de comportamento, o que nem sempre consigo.
Eis aqui a
leitura da Eucaristia de Sexta Feira passada, a primeira depois das cinzas,
retirada do livro de Isaías:
«»
Is. 58,1-9a.
Eis o que diz o Senhor Deus: «Clama em altos brados sem cessar,
ergue a tua voz como trombeta. Faz ver ao meu povo as suas faltas e à casa de
Jacob os seus pecados.
Todos os dias Me procuram e desejam conhecer os meus caminhos, como se fosse um
povo que pratica a justiça, sem nunca ter abandonado a lei do seu Deus.
Pedem-Me sentenças justas, querem que Deus esteja perto de si e exclamam:
‘De que nos serve jejuar, se não Vos importais com isso? De que nos serve fazer
penitência, se não prestais atenção?’ Porque nos dias de jejum correis para os
vossos negócios e oprimis todos os vossos servos.
Jejuais, sim, mas no meio de contendas e discussões e dando punhadas sem
piedade. Não são jejuns como os que fazeis agora que farão ouvir no alto a
vossa voz.
Será este o jejum que Me agrada no dia em que o homem se mortifica? Curvar a
cabeça como um junco, deitar-se sobre saco e cinza: é a isto que chamais jejum
e dia agradável ao Senhor?
O jejum que Me agrada não será antes este: quebrar as cadeias injustas, desatar
os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os
jugos?
Não será repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo,
levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu
semelhante?
Então a tua luz despontará como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a
sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor.
Então, se chamares, o Senhor responderá; se O invocares, dir-te-á: ‘Estou
aqui’».
«»
Agora… o
comentário desse dia no EVQ, de São Pedro Crisólogo:
«»
«Qual é o jejum que Me
agrada? [...] Não é partilhares o teu pão com quem tem fome?» (Is 58,6-7)
Quem
pratica o jejum deve compreender o jejum: deve simpatizar com o homem que tem
fome se quer que Deus simpatize com a sua própria fome; deve ser misericordioso
se espera obter misericórdia. [...] O que perdemos pela desatenção, devemos
conquistá-lo pelo jejum; imolemos as nossas vidas pelo jejum, porque não há
nada mais importante que possamos oferecer a Deus, como prova o profeta quando
diz: «O sacrifício que agrada a Deus é um espírito contrito; Deus não
desprezará um espírito humilhado e contrito» (Sl 50,19). Oferece pois a tua
vida a Deus, oferece a oblação do jejum para que tenhas aí uma oferta pura, um
sacrifício santo, uma vítima viva que inste em teu favor. [...]
Mas, para que estes dons sejam agradáveis, é preciso que venha em seguida a
misericórdia. O jejum não dá fruto se não for regado pela misericórdia; o jejum
torna-se menos árido pela misericórdia; o que a chuva é para a terra, é a
misericórdia para o jejum. Quem jejua pode cultivar o coração, purificar a
carne, arrancar os vícios, semear as virtudes; mas, se não verter ondas de
misericórdia, não recolhe frutos.
Ó tu que jejuas, o teu campo jejuará também se for privado da misericórdia; ó
tu que jejuas, o que espalhas pela tua misericórdia refletir-se-á na tua
granja. Para não desperdiçares pela avareza, recolhe pela generosidade. Dando
ao pobre, dás a ti próprio; porque aquilo que não entregas a outrem, não o
terás.
«»
Não estou a pensar
em ter ou não ter coisas materiais, mas em fazer, de facto, o que devo, a bem
da nossa vida em Deus como Jesus nos ensinou!
O exterior nunca
deixará de o ser, ou seja, o que obrigo o meu corpo a passar pode não ter a ver
muito com o espiritual, com a minha maneira íntima de ser e de viver.
Quaresma,
tempo de Revisão! Revisão de Vida, muito séria!
Que o Senhor
me ajude a mim e a toda a gente, pois todos juntos unidos a Jesus teremos muito
mais força e discernimento.
Santa
Quaresma!
HN
2018/02/19
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