ENTREVISTA ESPETACULAR

Quando se fala em pobreza, seja de que pobreza for, o meu coração dói. Até porque as pobrezas estão todas implicadas umas com as outras. E são as pobrezas morais e espirituais que dão origem às pobrezas materiais.
Já faz algum tempo que me chegou ao email uma entrevista que um repórter fez ao Papa Francisco quando ainda era Cardeal na Argentina, com conteúdo que eu nunca imaginaria, mas que acho de todo muito bem apresentado.

A entrevista tinha como base o que o Cardeal Bergoglio pensava sobre a pobreza no mundo, ao que o cardeal respondeu:
 

" - Primeiro na Europa e agora nas Américas, alguns políticos têm-sededicado a endividar as pessoas, fazendo com que fiquem dependentes.
- E para quê? Para aumentar o seu poder. Eles são grandes especialistas em criação de pobreza e isso ninguém questiona. Eu me esforço para lutar contra esta pobreza.

- A pobreza tornou-se algo natural e isso é ruim. Minha tarefa é
evitar o agravamento de tal condição. As ideologias que produzem a pobreza devem ser denunciadas. A educação é a grande solução para o problema.
- Devemos ensinar as pessoas como salvar sua alma, mas ensinar-lhes também a evitar a pobreza e a não permitir que o governo os conduza a esse estado lastimável "
O entrevistador ofendido perguntou: - O senhor culpa o governo?
" - Eu culpo os políticos que buscam seus próprios interesses. Você e seus amigos são socialistas. Vocês (socialistas) e suas políticas, são a causa de 70 anos de miséria, e são culpados de levar muitos países à beira do colapso. Vocês acreditam na redistribuição, que é uma das razões para a pobreza. Vocês querem nacionalizar o universo para poder controlar todas as atividades humanas. Vocês destroem o incentivo do homem, até mesmo para cuidar de sua família, o que é um crime contra a natureza e contra Deus. Esta vossa ideologia cria mais pobres do que todas as empresas que vocês classificam de diabólicas?.

O interlocutor disse: - Eu nunca tinha ouvido nada parecido de um cardeal.
" - As pessoas dominadas pelos socialistas precisam saber que não têm que ser pobres"
O interlocutor ataca: - E a América Latina? O senhor quer negar o progresso conseguido?
"O império da dependência foi criado na Venezuela por Hugo Chávez, com falsas promessas e mentindo para que se ajoelhem diante de seu governo. Dando peixe ao povo, sem lhes permitir pescar. Se na América Latina alguém aprende a pescar é punido e seus peixes são confiscados pelos socialistas. A liberdade é castigada. - Você fala de progresso e eu falo de pobreza. Temo pela América Latina. Toda a região está controlada por um bloco de regimes socialistas, como Cuba, Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela, Nicarágua. Quem vai salvá-los (a América Latina) dessa tirania?"
Acusa o interlocutor: - O senhor é um capitalista.
" - Se pensarmos que o capital é necessário para construir fábricas, escolas, hospitais, igrejas, talvez eu seja capitalista. Você se opõe a este raciocínio?"
- Claro que não, mas o senhor não acha que o capital é retirado do
povo pelas corporações abusivas?
- "Não, eu acho que as pessoas, através de suas escolhas económicas, devem decidir que parte do seu capital vai para esses projetos. O uso do capital deve ser voluntário. Só quando os políticos se apropriam (confiscam) esse capital para construir obras públicas e para alimentar a burocracia é que surge um problema grave. O capital investido voluntariamente é legítimo, mas o que é investido com base na coerção é ilegítimo ".
- Suas idéias são radicais? diz o jornalista.
- "Não. Há anos Khrushchev advertiu: "Não devemos esperar que os americanos abracem o comunismo, mas podemos ajudar os seus líderes com injeções de socialismo, até que, ao acordar, eles percebam que abraçaram o comunismo". Isto está acontecendo agora mesmo no antigo bastião da liberdade. Como os EUA poderão salvar a América Latina, se
eles próprios se tornarem escravos de seu governo? "
O jornalista diz: - ?Eu não consigo digerir (aceitar) tal pensamento?.
O cardeal respondeu: - "Você está muito irritado porque a verdade pode ser dolorosa. Vocês (os socialistas) criaram o estado de bem-estar que consiste apenas em atender às necessidades dos pobres, pobres esses que foram criados por vocês mesmos, com a vossa política. O estado interventor retira da sociedade, a sua responsabilidade. Graças ao estado assistencialista, as famílias deixam de cumprir seus deveres para obterem o seu bem-estar, incluindo as igrejas. As pessoas já não praticam mais a caridade e veem os pobres como um problema de governo.
- Para a igreja já não há pobres a ajudar, porque foram empobrecidos permanentemente e agora são propriedade dos políticos. E algo que me irrita profundamente, é o fato dos meios de comunicação observarem o problema sem conseguir analisar o que o causa. O povo empobrece e logo em seguida, vota em quem os afundou na pobreza ".

Estas palavras fizeram-me pensar muito… muito… muito! E a minha atenção ao comportamento de sucessivos governos e da população leva-me a concluir que são palavras muito sábias, impregnadas de sabedoria!...

Ao olhar para as diversas ideologias políticas cada um mostra as suas ideias e parece mesmo que todos estão carregados de razão, mas o facto é que, sem sombra para dúvidas, durante a minha caminhada neste mundo noto que a irresponsabilidade pessoal se instalou na vida de muita gente.

Quando era pequena e jovem… as dificuldades económicas eram muitas… mas toda a gente trabalhava onde e como podia e era das famílias mais pobres e numerosas que saíam as pessoas mais trabalhadoras, empreendedoras e abastadas. As pessoas nascidas de famílias ricas cujo rendimento dava para viver quase ou mesmo sem trabalhar… uma vez falecidos os seus progenitores… acabavam por ficar sem nada. No diálogo com meus pais e avós pude observar situações destas em várias famílias.

Hoje… depois de uma vida de luta contra todo o tipo de pobreza, ligada a variadas instituições humanitárias… acabo por concluir que grande parte das famílias carenciadas e a receber assistência sistemática, ou seja, rendimentos de reinserção social e outros… muitas vezes rejeitam o trabalho que lhes aparece, pois preferem viver à mercê e estar sem fazer nada do que serem senhores deles mesmos e a trabalhar!

As instituições de solidariedade, muitas vezes sem voluntários disponíveis, têm dificuldade em saber a quem devem entregar os géneros alimentícios e outros… pois vê-se nitidamente que a maior parte dos casos de necessidade, principalmente a nível da aldeias onde a solidariedade de vizinhança ainda está bem enraizada, a pobreza provém mais da falta de controle nas regras do bem viver do que propriamente da falta de meios.

Que o senhor nos ajude a poder ajudar estas pessoas… para que ganhem amor ao trabalho e aprendam a viver como convém, com competência e dignidade.