terça-feira, 6 de outubro de 2015
O CENTRO DA HUMANIDADE!
Não
tenhamos dúvidas! A Família é o centro de toda a humanidade, onde o Homem
nasce, cresce e floresce, dando bons ou menos bons frutos conforme os genes
recebidos na sua gestação e tenha sido melhor ou menos bem amparado durante o
seu desenvolvimento fisiológico, sociológico e cultural.
Com
a degradação de valores humanos o Homem foi deixando de ser o centro dos
interesses sociopolíticos em favor do amontoar de dinheiro e riquezas, pelo que
os problemas da Família têm vindo a agravar-se.
O
desemprego, quer queiramos ou não, está na base de toda esta confusão e amargura,
pois deixa as pessoas desmotivadas por não conseguirem uma realização pessoal
capaz no desempenho do trabalho adequado às suas capacidades e gostos nem conseguir
a angariação do necessário à sua sobrevivência!
Fala-se
por demais em amor, mas de uma maneira quase geral não se vive no verdadeiro
amor!
Vem
a propósito as palavras dignificantes do Papa Francisco na abertura do Sínodo
sobre a Família, na sua XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, inaugurado no
passado domingo, 4 de Outubro, subordinado ao tema “A vocação e missão da família na igreja e no
mundo contemporâneo:
“«Se
nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à
perfeição em nós» (1 Jo 4, 12).
As
Leituras bíblicas deste Domingo parecem escolhidas de propósito para o evento
de graça que a Igreja está a viver, ou seja, a Assembleia Ordinária do Sínodo
dos Bispos que tem por tema a família e é inaugurada com esta celebração
eucarística.
Aquelas
estão centradas em três argumentos: o drama da solidão, o amor entre
homem-mulher e a família.
A
solidão
Como
lemos na primeira Leitura, Adão vivia no Paraíso, impunha os nomes às outras
criaturas, exercendo um domínio que demonstra a sua indiscutível e incomparável
superioridade, e contudo sentia-se só, porque «não encontrou auxiliar
semelhante a ele» (Gn 2, 20) e sentia a solidão.
A
solidão, o drama que ainda hoje aflige muitos homens e mulheres. Penso nos
idosos abandonados até pelos seus entes queridos e pelos próprios filhos; nos
viúvos e nas viúvas; em tantos homens e mulheres, deixados pela sua esposa e
pelo seu marido; em muitas pessoas que se sentem realmente sozinhas, não
compreendidas nem escutadas; nos migrantes e prófugos que escapam de guerras e
perseguições; e em tantos jovens vítimas da cultura do consumismo, do «usa e
joga fora» e da cultura do descarte.
Hoje
vive-se o paradoxo dum mundo globalizado onde vemos tantas habitações de luxo e
arranha-céus, mas o calor da casa e da família é cada vez menor; muitos
projectos ambiciosos, mas pouco tempo para viver aquilo que foi realizado;
muitos meios sofisticados de diversão, mas há um vazio cada vez mais profundo
no coração; tantos prazeres, mas pouco amor; tanta liberdade, mas pouca
autonomia... Aumenta cada vez mais o número das pessoas que se sentem sozinhas,
e também daquelas que se fecham no egoísmo, na melancolia, na violência
destrutiva e na escravidão do prazer e do deus-dinheiro.
Em
certo sentido, hoje vivemos a mesma experiência de Adão: tanto poder
acompanhado por tanta solidão e vulnerabilidade; e ícone disso mesmo é a
família. Verifica-se cada vez menos seriedade em levar por diante uma relação
sólida e fecunda de amor: na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na boa
e na má sorte. Cada vez mais o amor duradouro, fiel, consciencioso, estável,
fecundo é objecto de zombaria e olhado como se fosse uma antiguidade. Parece
que as sociedades mais avançadas sejam precisamente aquelas que têm a taxa mais
baixa de natalidade e a taxa maior de abortos, de divórcios, de suicídios e de
poluição ambiental e social.
O
amor entre homem e mulher
Ainda
na primeira Leitura, lemos que o coração de Deus, ao ver a solidão de Adão,
ficou como que entristecido e disse: «Não é conveniente que o homem esteja só;
vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele» (Gn 2, 18). Estas palavras
demonstram que nada torna tão feliz o coração do homem como um coração que lhe
seja semelhante, lhe corresponda, o ame e tire da solidão e de sentir-se só.
Demonstram também que Deus não criou o ser humano para viver na tristeza ou
para estar sozinho, mas para a felicidade, para partilhar o seu caminho com
outra pessoa que lhe seja complementar; para viver a experiência maravilhosa do
amor, isto é, amar e ser amado; e para ver o seu amor fecundo nos filhos, como
diz o salmo que foi proclamado hoje (cf. Sal 128).
Tal
é o sonho de Deus para a sua dilecta criatura: vê-la realizada na união de amor
entre homem e mulher; feliz no caminho comum, fecunda na doação recíproca. É o
mesmo desígnio que Jesus, no Evangelho de hoje, resume com estas palavras:
«Desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem
deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois um só.
Portanto, já não são dois, mas um só» (Mc 10, 6-8; cf. Gn 1, 27; 2, 24).
Jesus,
perante a pergunta retórica que Lhe puseram (provavelmente como uma cilada,
para fazê-Lo sem mais aparecer odioso à multidão que O seguia e que praticava o
divórcio, como uma realidade consolidada e intangível), responde de maneira
franca e inesperada: leva tudo de volta à origem, à origem da criação, para nos
ensinar que Deus abençoa o amor humano, é Ele que une os corações de um homem e
de uma mulher que se amam e liga-os na unidade e na indissolubilidade. Isto
significa que o objectivo da vida conjugal não é apenas viver juntos para
sempre, mas amar-se para sempre. Jesus restabelece assim a ordem originária e
originadora.
A
família
«Pois
bem. O que Deus uniu não o separe o homem» (Mc 10, 9). É uma exortação aos
crentes para superar toda a forma de individualismo e de legalismo, que se
esconde num egoísmo mesquinho e no medo de aderir ao significado autêntico do
casal e da sexualidade humana no projecto de Deus.
Com
efeito, só à luz da loucura da gratuidade do amor pascal de Jesus é que
aparecerá compreensível a loucura da gratuidade dum amor conjugal único e usque
ad mortem.
Para
Deus, o matrimónio não é utopia da adolescência, mas um sonho sem o qual a sua
criatura estará condenada à solidão. De facto, o medo de aderir a este projecto
paralisa o coração humano.
Paradoxalmente,
também o homem de hoje – que muitas vezes ridiculariza este desígnio – continua
atraído e fascinado por todo o amor autêntico, por todo o amor sólido, por todo
o amor fecundo, por todo o amor fiel e perpétuo. Vemo-lo ir atrás dos amores
temporários, mas sonha com o amor autêntico; corre atrás dos prazeres carnais,
mas deseja a doação total.
De
facto, «agora que provámos plenamente as promessas da liberdade ilimitada,
começamos de novo a compreender a expressão “a tristeza deste mundo”. Os
prazeres proibidos perderam o seu fascínio, logo que deixaram de ser proibidos.
Mesmo quando são levados ao extremo e repetidos ao infinito, aparecem
insípidos, porque são coisas finitas, e nós, ao contrário, temos sede de
infinito» (Joseph Ratzinger, Auf Christus schauen. Einübung in Glaube,
Hoffnung, Liebe, Friburgo 1989, p. 73).
Neste
contexto social e matrimonial bastante difícil, a Igreja é chamada a viver a
sua missão na fidelidade, na verdade e na caridade. A Igreja é chamada a viver
a sua missão na fidelidade ao seu Mestre como voz que grita no deserto, para
defender o amor fiel e encorajar as inúmeras famílias que vivem o seu
matrimónio como um espaço onde se manifesta o amor divino; para defender a
sacralidade da vida, de toda a vida; para defender a unidade e a
indissolubilidade do vínculo conjugal como sinal da graça de Deus e da
capacidade que o homem tem de amar seriamente.
A
Igreja é chamada a viver a sua missão na verdade que não se altera segundo as
modas passageiras ou as opiniões dominantes. A verdade que protege o homem e a
humanidade das tentações da auto-referencialidade e de transformar o amor
fecundo em egoísmo estéril, a união fiel em ligações temporárias. «Sem verdade,
a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se
pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade»
(Bento XVI, Enc. Caritas in veritate, 3).
E a
Igreja é chamada a viver a sua missão na caridade que não aponta o dedo para
julgar os outros, mas – fiel à sua natureza de mãe – sente-se no dever de
procurar e cuidar dos casais feridos com o óleo da aceitação e da misericórdia;
de ser «hospital de campanha», com as portas abertas para acolher todo aquele
que bate pedindo ajuda e apoio; e mais, de sair do próprio redil ao encontro
dos outros com amor verdadeiro, para caminhar com a humanidade ferida, para a
integrar e conduzir à fonte de salvação.
Uma
Igreja que ensina e defende os valores fundamentais, sem esquecer que «o sábado
foi feito para o homem e não o homem para o sábado» (Mc 2, 27); e sem esquecer
que Jesus disse também: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas
sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores» (Mc 2, 17). Uma
Igreja que educa para o amor autêntico, capaz de tirar da solidão, sem esquecer
a sua missão de bom samaritano da humanidade ferida.
Recordo
São João Paulo II, quando dizia: «O erro e o mal devem sempre ser condenados e
combatidos; mas o homem que cai ou que erra deve ser compreendido e amado.
(...) Devemos amar o nosso tempo e ajudar o homem do nosso tempo» [Discurso à
Acção Católica Italiana, 30 de Dezembro de 1978: Insegnamenti (1978), 450]. E a
Igreja deve procurá-lo, acolhê-lo e acompanhá-lo, porque uma Igreja com as
portas fechadas atraiçoa-se a si mesma e à sua missão e, em vez de ser ponte,
torna-se uma barreira: «De facto, tanto o que santifica, como os que são
santificados, provêm todos de um só; razão pela qual não se envergonha de lhes
chamar irmãos» (Heb 2, 11).
Com
este espírito, peçamos ao Senhor que nos acompanhe no Sínodo e guie a sua
Igreja pela intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria e de São José, seu
castíssimo esposo.”
Não
podemos esquecer este grande acontecimento, mas rezar muito para que traga uma
melhor resolução dos problemas para as famílias em crise!
Que o Espírito Santo esteja
com os Padres Sinodais!
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