Não sei! Eu ainda não sei usar muito bem os meus olhos,
mas já aprendi muito acerca deles.
Os nossos olhos, aquelas duas bogalhinhas, estão voltadas
para fora! Dá ideia que servem apenas para ver o que se passa à nossa volta! E
isso é uma realidade! Os nossos olhos servem para ver, as flores, as serras, os
rios, o mar, as nuvens, os passarinhos, os aviões, a luz e a escuridão, e as
pessoas que estão ao nosso lado!
Então fazemos uma enorme confusão com aquilo que vamos
observando!
Tudo quanto vemos é real! Mas temos de ter muito cuidado,
porque das pessoas vemos apenas o exterior, que é o que menos interessa! A cor
dos olhos e dos cabelos, o tamanho do corpo, jeito de andar robustez ou
fraqueza, é o que menos interessa numa pessoa, pois o mais importante é
invisível aos nossos olhos!
Então… para nos vermos a nós mesmos, temos de usar um
espelho, de nos colocarmos frente a um espelho! E ainda assim, também não nos
vemos como convém, porque o mais importante não é o visível aos olhos, mas o
sensível e palpável com o coração, com os olhos do coração!
Claro que o coração não tem olhos, os olhos do nosso
coração são os olhos de Deus que nos chegam pela Sua Palavra que é Jesus
Cristo!
Isto quer dizer que, para nos descobrirmos tal qual
somos, temos de nos olhar interiormente e meditar no porquê das nossas atitudes
de todos os dias, confrontando-as com a vida de Jesus que é o único exemplo a
seguir para sermos como Deus quer!
É difícil… claro que é! Faz parte da nossa caminhada de
todos os dias! Das nossas quedas e ressurgimentos, dos nossos fracassos e
sucessos! Que muitas vezes ou quase sempre não acontecem porque os queremos, as
fraquezas são fruto das nossas fragilidades e os sucessos são obra de Deus em
nós!
Então… olhemos tudo, admiremos tudo… mas cuidado com a
forma como pensamos as pessoas… que não são o que vemos… são, muitas vezes, o
que nem elas próprias são capazes de saber!
Deus conhece-nos muito melhor do que nós, só Ele sabe o
que nos convém, e o tempo d’Ele não é o nosso!
Um enorme cabeço necessita que… (não me lembra do nome do
artista que trabalha a pedra e a torna bonita) gaste muito tempo a fazer uma
escultura na pedra! Nós somos um pouco como pedras toscas! Não queiramos ficar
bonzinhos sem tempo nem esforço, mesmo com a ajuda sempre persistente de Deus!
Olhar os outros e pensar ou inventar e enumerar os
defeitos que neles vemos, parece fácil! Mas… como conseguiremos ver os defeitos
dos outros se até os nossos defeitos estão ocultos aos nossos olhos??? Cuidado!
Muito cuidado!...
«»
São Máximo
o Confessor (c. 580-662), monge, teólogo
Centúria sobre o amor IV, nos. 19, 20, 22, 25, 35, 82, 98
Tem atenção à tua pessoa. Vê se o
mal que te separa do teu irmão não se encontrará em ti, e não nele. Apressa-te
a reconciliar-te com ele (cf Mt 5,24), a fim de não ignorares o mandamento do
amor. Não desprezes o mandamento do amor, pois é por ele que serás filho de
Deus. Se, porém, o transgredires, serás filho da geena. [...]
Foste posto à prova pelo teu
irmão e a tristeza conduziu-te ao ódio? Não te deixes vencer pelo ódio, mas
vence-o pelo amor. Vencerás da seguinte maneira: rezando sinceramente a Deus
por ele, desculpando a sua ofensa e procurando mesmo justificá-lo, considerando
que és tu o responsável por essa provação, suportando-a com paciência até
passar a nuvem. [...] Não consintas em perder o amor espiritual, pois não foi
proposta aos homens outra via de salvação. [...] Uma alma razoável que alimenta
ódio contra um homem não pode estar em paz com Deus, que nos deu o seguinte
mandamento: «Se não perdoardes aos homens as suas ofensas, o vosso Pai
celestial também não vos perdoará as vossas» (Mt 6,14-15). Se esse homem não
quer estar em paz contigo, ao menos guarda-te do ódio, rezando sinceramente por
ele e não dizendo mal dele a ninguém. [...]
Aplica-te o mais que puderes a
amar todos os homens. E, se ainda não consegues fazê-lo, pelo menos não odeies
ninguém. Mas nem isso poderás fazer se não desprezares as coisas do mundo.
[...] Os amigos de Cristo amam verdadeiramente todos os seres, mas não são
amados por todos. Os amigos de Cristo perseveram até ao fim no seu amor. Mas os
amigos do mundo só perseveram até o mundo os levar a ferirem-se uns aos outros.
«»
Oxalá este maravilhoso texto possa dar para entender o
nosso relacionamento com as pessoas com quem convivemos: pais, irmãos, filhos,
sogra, sogro, nora, genro, irmãos, irmãs, tios, tias sobrinhos, sobrinhas,
primos, primas, vizinhos, vizinhas, amigos, inimigos!...
Em todas as pessoas temos que ver Deus ao nosso lado, e
olhá-las e amá-las como a nós mesmos, tal como Deus nos ordenou e Jesus
exemplificou!
Meu Deus! Que os nossos olhos e o nosso coração consigam
enxergar as boas atitudes dos irmãos e não os recriminar quando se portam menos
bem, é a única forma de os podermos ajudar a autocorrigir-se, porque, ou a
própria pessoa se corrige a si mesma, ou mais ninguém poderá fazer nada por
ela!
Boa noite e boa Quaresma para uma vida bem realizada e
feliz!
Hermínia Nadais
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