Quando era novinha, acreditava em tudo,
tinha medo de tudo, horrorizavam-me certas coisas que fazia e ficava muito
triste. Isto acontecia porque desde bem cedo os meus pais e avós incutiram na
minha vida um grande respeito e amor por Deus, Jesus, Maria, José. O Espírito
Santo, falava-se d’Ele quando se rezava a Glória, mas quase não passava daí.
Sabia-se que em Deus havia três pessoas, mas o Pai castigava o mal, era o mais
falado e o que metia mais medo. Era medo, não era temor! Temor tenho agora.
Que, referente a Deus, é muito diferente de medo!
Aos poucos fui-me inserindo na
Catequese, como catequista, pelo que tinha de fazer formação que muito me
ajudou. Depois o Prior formou um grupo de Ação Católica na Paróquia que também,
exigiu formação e uma atuação especial, pois fui colocada na frente do Grupo.
Ajudou-me muito.
Tudo me chegava muito ao Senhor porque,
realmente, eu tinha vontade de ser Freira, mas entretanto, numa viagem a
Fátima, encontrei o Herculano e foi, na verdade, amor à primeira vista. Nunca mais
deixei de gostar dele e de o amar demais da conta.
Entretanto comecei a estudar como
autodidata aos 22 anos, e a dar aulas ao que agora se chama de 1º Ciclo, mas na
serra, longe de casa.
Foi difícil, pois não tinha tempo livre
para o Francês e Inglês que necessitava de explicações.
Tinha feito o então chamado 2º Ano do Liceu,
agora, 6º ano, quando casamos e ficamos a viver em casa dos pais dele, o que,
de facto, nunca foi do meu agrado, mas, enfim!
A vida não foi fácil, com muitos baixos
e poucos altos, mas Deus esteve sempre presente ao longo de todos os meus dias.
Depois de dois anos na extinta Escola do
Magistério Primário do Porto completei o curso e comecei de novo a lecionar,
agora na cidade de Vale de Cambra, que na altura era Vila.
Nunca deixei de dar aula de Religião e Moral,
e no último ano que lecionei foi o meu trabalho com todas as 13 turmas da
escola onde trabalhava, onde ensinava também a iniciação à informática, que
sempre me sensibilizou.
Quando entrei na aposentação ou reforma,
reformei mesmo.
Entreguei-me de corpo e alma às coisas
de Deus, foi quando fiz o Cursilho de Cristandade e por aí além. Cada vez me
prendia mais com a Palavra de Deus que comecei a perceber aos pouquinhos e a
amar a Deus em espírito e verdade! Aos poucos fui perdendo o medo dos castigos
de Deus e a temer magoá-l’O, que é o que sinto agora no mais fundo de mim
mesma. E agradam-me por demais escritos como este:
«»
Juliana de Norwich (1342-depois de 1416)
mística inglesa
«Revelações do Amor Divino», cap. 32
O nosso bom Senhor disse-me certa
vez: «Todas as coisas vão acabar em bem»; e doutra vez disse-me: «Verás que
tudo acabará em bem». Com estas palavras, a minha alma percebeu […] que Ele
quer que saibamos que dá atenção, não somente às coisas nobres e grandes, mas
também às que são humildes, pequenas, pouco elevadas, simples. É isto que Ele
quer dizer quando declara: «Tudo, seja o que for, terminará em bem».
Ele quer fazer-nos entender que
nem a menor coisa será esquecida. E quer que compreendamos que muitas ações são
tão más a nossos olhos e nos causam tanta dor que parece impossível que possam
ter um fim bom; e assim, afligimo-nos e lamentamo-nos, de tal modo que deixamos
de ser capazes de encontrar a paz na contemplação bem-aventurada de Deus, como
devíamos. Porque neste mundo raciocinamos de forma tão cega, tão baixa, tão
simplista que nos é impossível conhecer a sabedoria elevada e maravilhosa, o
poder e a bondade da Santíssima Trindade. […] É como se Deus nos dissesse: «Na
nossa vida Tende o cuidado de acreditar e confiar em Mim, e no final vereis
tudo na verdade, e portanto na plenitude da alegria». […]
Vejo que há uma obra que a
Santíssima Trindade realizará no último dia. Quando e como será feita esta
obra, nenhuma criatura abaixo de Cristo o sabe e ninguém o saberá até ao seu
cumprimento. […] Se Deus quer que saibamos que Ele fará esta obra, é para que
estejamos mais à vontade, mais pacificados no amor, e deixemos de fixar o olhar
nas tempestades que nos impedem de verdadeiramente nos alegrarmos nele. Esta é
a grande obra ordenada por Nosso Senhor desde toda a eternidade, um tesouro
escondido no seu seio bendito, e só dele conhecido. Por esta obra, Ele vai
garantir que tudo acabe em bem, porque, tal como a Santíssima Trindade criou todas
as coisas do nada, assim vai tornar boas todas as coisas que o não são.
«»
Perante tudo o que Deus tem feito de mim
e comigo, acredito profundamente que com Deus a amparar-nos a vida tudo acaba
bem! E por uma razão muito simples.
Sou uma pobre criatura pecadora, cheia
de defeitos, que amo a Deus e aos irmãos do jeito que fui aprendendo ao longo
da vida com Deus e com tudo quanto me foi acontecendo, e passo a vida a rezar
pelo bem e o sucesso (mais espiritual que corporal) de toda a gente… e
não sou capaz de fazer nem desejar mal a
ninguém.
Então, perante isto, questiono-me como
será Deus? Como será Jesus? Como será a Santíssima Trindade? Como será Nossa Senhora…
e os santos! Um dia… o saberei!
A bondade de Deus ultrapassa tudo, não
tenho a menor dúvida!
Hermínia Nadais
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