segunda-feira, 17 de agosto de 2020

RIQUEZAS… E POBREZAS!

 

Por muito que se fale destas duas situações, nunca será demais, porque estão sempre a ensinar-nos coisas novas.

Quando bem jovem, lembro que

as pessoas com mais haveres materiais, as tais bem ricas, não eram bem vistas pelos restantes, pois toda a gente desejava ser como eles ou elas, e não era possível.

Aos poucos, a vida foi-me dizendo que riqueza e pobreza, são palavras opostas, que podem até estar bem interiorizadas na mesma pessoa.

Imaginemos uma dessas pessoas cheias de haveres materiais a que normalmente chamam de ricas, mas em vez de se armarem em graúdas usam o que lhes sobra de uma vida normal para ajudar quem necessita. E aqui temos, na mesma ou mesmas pessoas, riqueza material e pobreza evangélica bem unidas.

Agora, vamos pensar numa pessoa ou em pessoas às quais os bens materiais não chegam por alguma razão, e em vez de tentar viver com o que a vida lhes vai ofertando, passam o tempo a reclamar contra tudo e contra todos simplesmente pela falta desses bens materiais em demasia o que nos apresenta a pobreza material bem unida a um ideal de riqueza que não leva a nada!

E também pode acontecer que dessas pessoas com bens materiais abastados passem a vida bem agarrados ao trabalho para conseguirem mais e mais, e nessas, só existe mesmo a riqueza material pois a pobreza evangélica passa-lhes ao lado.

Temos que saber aproveitar as nossas faculdades e haveres, agradecer ao bom Deus que no-las concedeu, viver com o que temos e partilhar o que nos sobra com quem tem menos do que nós, isso é que é!

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São Clemente de Alexandria (150-c. 215)
teólogo
Homilia: «Os ricos salvar-se-ão?»

«Bem-aventurados os pobres em espírito» (Mt 5,3)

Não se trata de rejeitar os bens suscetíveis de ajudar o próximo. É da natureza das posses serem possuídas; como é da natureza dos bens difundir o bem; Deus destinou-os ao bem-estar dos homens. Os bens estão nas nossas mãos como ferramentas, como instrumentos dos quais fazemos bom uso, se soubermos manipulá-los. [...] A natureza fez das riquezas escravas, e não senhoras. Não se trata, pois, de as depreciar, porque, em si mesmas, não são boas nem más, mas inocentes. De nós depende o uso, bom ou mau, que delas fazemos; o nosso espírito, a nossa consciência, são inteiramente livres para dispor à sua vontade dos bens que lhes foram confiados. Destruamos, pois, não os nossos bens, mas a cobiça que lhes perverte o uso. Quando nos tivermos tornado virtuosos, saberemos usá-los com virtude. Compreendamos que os bens dos quais nos mandam desfazer-nos são os desejos desregrados da alma. [...] Nada lucrais em largar o dinheiro que tendes, se continuardes a ser ricos em desejos desregrados. [...]

Eis de que forma concebe o Senhor o uso dos bens exteriores: temos de nos desfazer, não do dinheiro que nos permite viver, mas das forças que nos levam a usá-lo mal, ou seja, das doenças da alma. [...] Temos de purificar a nossa alma, isto é, de a tornar pobre e nua, para ouvirmos o chamamento do Salvador: «Vem e segue-Me». Ele é o caminho que percorre aquele que tem o coração puro. [...] Este considera que a fortuna, o ouro, a prata, as casas que possui, tudo isso são graças de Deus; e mostra-Lhe o seu reconhecimento socorrendo os pobres com os seus fundos. Ele sabe que possui esses bens, mais para os irmãos do que para si mesmo; longe de se tornar escravo das suas riquezas, é mais forte do que elas; não as encerra na sua alma. [...] E, se um dia o dinheiro lhe desaparecesse, aceitaria a ruína com a felicidade dos melhores dias. É esse o homem, afirmo eu, que Deus considera bem-aventurado e a quem chama «pobre em espírito» (Mt 5,3), herdeiro certo do Reino dos Céus, que está fechado àqueles que não souberam desprender-se da sua opulência.

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Gostei imenso deste texto. Achei-o muito elucidativo. Que os nossos cuidados e desejos não sejam muitos bens materiais, mas sim espirituais, os bens da alma imortal criada para viver com Deus uma vida sem fim, eterna!

Que o Espírito Santo de Deus nos dê o discernimento e a sabedoria para conseguirmos viver o melhor possível, em harmoniosa e fraternal harmonia, com o que temos e somos na realidade, pessoas humanas vivendo na mais perfeita e consolidada humanidade.

Hermínia Nadais

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