Por muito que se fale destas duas situações, nunca será demais, porque estão sempre a ensinar-nos coisas novas.
Quando bem jovem, lembro que
Aos poucos, a vida
foi-me dizendo que riqueza e pobreza, são palavras opostas, que podem até estar
bem interiorizadas na mesma pessoa.
Imaginemos uma dessas
pessoas cheias de haveres materiais a que normalmente chamam de ricas, mas em
vez de se armarem em graúdas usam o que lhes sobra de uma vida normal para
ajudar quem necessita. E aqui temos, na mesma ou mesmas pessoas, riqueza
material e pobreza evangélica bem unidas.
Agora, vamos pensar
numa pessoa ou em pessoas às quais os bens materiais não chegam por alguma
razão, e em vez de tentar viver com o que a vida lhes vai ofertando, passam o
tempo a reclamar contra tudo e contra todos simplesmente pela falta desses bens
materiais em demasia o que nos apresenta a pobreza material bem unida a um
ideal de riqueza que não leva a nada!
E também pode
acontecer que dessas pessoas com bens materiais abastados passem a vida bem
agarrados ao trabalho para conseguirem mais e mais, e nessas, só existe mesmo a
riqueza material pois a pobreza evangélica passa-lhes ao lado.
Temos que saber
aproveitar as nossas faculdades e haveres, agradecer ao bom Deus que no-las
concedeu, viver com o que temos e partilhar o que nos sobra com quem tem menos
do que nós, isso é que é!
«»
São Clemente
de Alexandria (150-c. 215)
teólogo
Homilia: «Os ricos salvar-se-ão?»
«Bem-aventurados os pobres em espírito» (Mt 5,3)
Não se trata de rejeitar os bens suscetíveis de ajudar
o próximo. É da natureza das posses serem possuídas; como é da natureza dos
bens difundir o bem; Deus destinou-os ao bem-estar dos homens. Os bens estão
nas nossas mãos como ferramentas, como instrumentos dos quais fazemos bom uso,
se soubermos manipulá-los. [...] A natureza fez das riquezas escravas, e não
senhoras. Não se trata, pois, de as depreciar, porque, em si mesmas, não são
boas nem más, mas inocentes. De nós depende o uso, bom ou mau, que delas
fazemos; o nosso espírito, a nossa consciência, são inteiramente livres para
dispor à sua vontade dos bens que lhes foram confiados. Destruamos, pois, não
os nossos bens, mas a cobiça que lhes perverte o uso. Quando nos tivermos
tornado virtuosos, saberemos usá-los com virtude. Compreendamos que os bens dos
quais nos mandam desfazer-nos são os desejos desregrados da alma. [...] Nada
lucrais em largar o dinheiro que tendes, se continuardes a ser ricos em desejos
desregrados. [...]
Eis de que forma concebe o Senhor o uso dos bens
exteriores: temos de nos desfazer, não do dinheiro que nos permite viver, mas
das forças que nos levam a usá-lo mal, ou seja, das doenças da alma. [...]
Temos de purificar a nossa alma, isto é, de a tornar pobre e nua, para ouvirmos
o chamamento do Salvador: «Vem e segue-Me». Ele é o caminho que percorre aquele
que tem o coração puro. [...] Este considera que a fortuna, o ouro, a prata, as
casas que possui, tudo isso são graças de Deus; e mostra-Lhe o seu reconhecimento
socorrendo os pobres com os seus fundos. Ele sabe que possui esses bens, mais
para os irmãos do que para si mesmo; longe de se tornar escravo das suas
riquezas, é mais forte do que elas; não as encerra na sua alma. [...] E, se um
dia o dinheiro lhe desaparecesse, aceitaria a ruína com a felicidade dos
melhores dias. É esse o homem, afirmo eu, que Deus considera bem-aventurado e a
quem chama «pobre em espírito» (Mt 5,3), herdeiro certo do Reino dos Céus, que
está fechado àqueles que não souberam desprender-se da sua opulência.
«»
Gostei imenso deste
texto. Achei-o muito elucidativo. Que os nossos cuidados e desejos não sejam
muitos bens materiais, mas sim espirituais, os bens da alma imortal criada para
viver com Deus uma vida sem fim, eterna!
Que o Espírito Santo
de Deus nos dê o discernimento e a sabedoria para conseguirmos viver o melhor
possível, em harmoniosa e fraternal harmonia, com o que temos e somos na
realidade, pessoas humanas vivendo na mais perfeita e consolidada humanidade.
Hermínia Nadais
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