sábado, 20 de junho de 2015

JESUS E A TEMPESTADE

Desde sempre me causou grande espanto esta parte do Evangelho, Jesus a dormir enquanto os Seus discípulos se debatiam com enorme tempestade... hoje compreendi que naquele mar que os levava a um terreno habitado por pagãos, ou seja, não judeus! E esta ligeira percepção já me leva a perceber muita coisa a que esta passagem me poderá levar, o que antes não conseguiria.
Gosto muito de ler os artigos do Padre António Riviero sobre a liturgia dominical, pois engloba todas as leituras de uma forma muito elucidativa e convincente .
Acerca da liturgia do próximo domingo ele diz:
“Na tradição dos povos do Oriente Médio o mar foi sempre o lugar das forças caóticas do mal, opostas a Deus. Jesus deixa a margem de Cafarnaum para passar para a outra margem, à costa ocidental do lago de Galileia, que na época era território não judeu, e, portanto, terra de pagãos. No meio da travessia do mar se levanta um forte temporal, como se as forças do mal quisessem obstaculizar a difusão do evangelho do Reino de Deus. Cristo pede fé na sua divindade e confiança.
Em primeiro lugar, na primeira leitura experimentou a tormenta na sua vida. Deus o provou. Provas: A imensa perda de sobre as coisas terrenas, a prova física no seu corpo, o seu matrimônio foi se desmoronando, perdeu a sua boa reputação. Como reagiu Jó diante destas provas? Aferrou-se ao seu Senhor, apesar de que o Senhor primeiro não respondeu a sua oração e aparentemente não fez chegar para ele nenhuma ajuda. Disse: “O que? Receberemos de Deus o bem, e não receberemos também o mal?” (2,10). A nave da vida de Jó estava ancorada no seu Deus. Nenhuma tormenta podia afastá-lo Dele. O Senhor era o primeiro na sua vida. O escuro propósito que Satanás tinha para Jó, no final das contas levou à glorificação do Senhor, pois Jó continuou aferrado ao seu Deus! Triunfalmente exclamou ainda mais nesses momentos: “Eu sei que o meu Redentor vive”. Quando já não sobrou nada mais na vida de Jó, permaneceram ainda o Senhor e ele, o próprio Jó. Que íntima chegou a ser a sua comunhão com o seu Senhor através desta prova e desta tormenta!
Em segundo lugar, os apóstolos também experimentaram a tormenta na barca, levando Jesus nela. As últimas parábolas que Marcos narrou mostravam a força do crescimento irresistível do Reino. Agora a cena muda radicalmente: descreve uma situação comprometida dos discípulos. Tudo produz certo arrepio: torna-se escuro; levanta-se de repente um forte temporal e as ondas irrompem contra o frágil barco que pouco a pouco vai se enchendo de água. O grupo -a comunidade- corre o perigo, vive numa situação limite; em qualquer momento podem afundar. Enquanto isso Jesus “dorme” no lugar do timoneiro desde onde se marca o rumo da nave. Jesus não se sente ameaçado, não perdeu a paz. Os discípulos, ao contrário, meio histéricos gritam e vão de em lado para outro, tentando salvar a própria pele... E Jesus “dorme”! Como pode Jesus despreocupar-se desse jeito? Nem lhe importa os seus seguidores? Esta atitude de Jesus recorda aquele semeador da parábola que dorme enquanto a semente faz o seu trabalho. Mas os discípulos não pensam naquela parábola, de tão assustados, amedrontados e alarmados como estão. E acordam Jesus recriminando-o, porque Ele está abandonando-os justo naquele momento de extremo risco. “Não te importa que pereçamos?”.  Os discípulos- e também nós- ainda tem o coração endurecido, para eles é custoso abrir-se com fé à pessoa de Jesus. Custa entender que Jesus não dorme, mas que sabe viver sempre, na tempestade e na bonança, na certeza de estar sempre nas boas mãos de Deus que é todo Amor. Aprender a fazer esta experiência, não só ficam reduzidas as dificuldades, mas que se aprende a ser discípulo.
Finalmente, nós, como a Igreja, não nos escaparemos das diversas tormentas que Deus ou quer ou permite na nossa vida. Mais de 2.000 anos já passaram desde que Jesus Cristo fundou a Igreja. Mais de 2.000 já passaram de cristianismo e parece que tudo vai desabando; parece que as novas doutrinas religiosas estão tomando o lugar da Igreja, mas não é assim. A Igreja parece naufragar na tempestade do mundo e nos problemas que vão surgindo; mas cada vez que nós, os homens, duvidamos se levanta uma voz que parece despertar de um longo sono: Não tenham medo, tenham fé! E o mar se acalma de novo; o barco de Pedro continua o seu rumo através dos anos, dos séculos e dos milênios. Cristo não está longe de nós; dorme junto do timão, para que quando a nossa fé desfalecer, quando estivermos tristes e desamparados, Ele toma o timão da nossa vida. Aliás, no mar da nossa vida brilha uma estrela, relampeja no céu da nossa alma a estrela de Maria, para não perdermos o rumo. Quantas situações de angústia e de perigo vivemos! Incompreensão, crise familiar ou comunitária, fracasso da evangelização, esfriamento do compromisso, escândalos, forças incontroláveis do mal, ideologias de todo tipo, etc. Às vezes as comunidades temos a sensação de estar perdidas, de ir à deriva, de ter perdido o norte... E não entendemos o silêncio de Deus.
Para refletir: Dedique um bom tempo para guardar silêncio no seu interior, buscar a calma no meio de tantas preocupações, temores, incertezas. Quais tormentas estás atravessando neste momento? Como Jesus, coloque-se nas mãos do bom Deus que é todo Amor. Faça um ato de fé em Jesus que ocupa o lugar do Deus que é todo Amor na sua comunidade ou na sua família. Ele está presente, não nos abandonou, o que podemos temer? Peça saber viver na confiança. Peça a força interior para aguentar os golpes da vida, os vazios, a falta de sentido, o medo de seguir Jesus... Tudo o que dificulta verdadeiramente a fé. Adira-se à pessoa de Jesus, que nos livra das paralisias e nos faz agir para poder seguir liberando muitos outros de qualquer tipo de paralisias e desconfiança.
Para rezar: Senhor, aumentai a minha fé e a minha confiança em Vós, que levais o barco da minha vida. Permiti–me gritar a Vós na oração quando Vós estejais dormindo e venha a tempestade da prova, da dor, do mal, do silêncio de Deus, da crise de fé, do medo.
Sei que é uma leitura longa, mas em que vale bem a pena reflectir, pois vai-nos ajudar a compreender e viver melhor a Eucaristia!
Que o Espírito Santo nos ajude!

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