domingo, 17 de agosto de 2014

A MULHER CANANEIA!...



O Evangelho de hoje, a oração de uma mãe aflita com o mal-estar da filha, toca até ao mais profundo do coração!

Esta passagem de Mateus sempre me tocou muito, e apesar de me ir debruçando sobre ela, levei tempo demais a compreendê-la minimamente.

A súplica desesperada da mulher… a preocupação dos apóstolos… o primitivo silêncio e as palavras de Jesus… é impressionante como Ele diz claramente que é enviado a todos os povos do mundo, e como evidência a fé daquela mulher totalmente desligada das vivências de Jesus e Seus discípulos!

Urge pensar friamente como agimos perante as pessoas com quem nos cruzamos na vida, tantas vezes incompreendidas por nós!... O facto de frequentar as igrejas só por si não santifica ninguém, mas o saber-se Igreja e agir como tal, de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo!

Gostava de ter capacidade de me poder sentir bem dentro do tempo de Jesus na Galileia para compreender melhor os cachorrinhos… a alimentarem-se das migalhas… o que ainda hoje se pode verificar em  muitas situações!

Sentir-se um “cachorrinho de Jesus” é não conseguir viver sem Jesus, é saber que Ele cuida de nós!

Gostei muito da Homilia na Eucaristia, simples e convincente!  E no Evangelho Quotidiano Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois cisterciense, apresenta a seguinte meditação:


‘«Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim»
Às vezes, Senhor, sinto-Te passar; Tu não páras, ultrapassas-me, mas eu grito por Ti como a mulher cananeia. Ousarei aproximar-me de Ti? Claro que sim, porque os cachorros expulsos da casa do dono regressam sempre e, guardando a casa, recebem o seu pão de cada dia. Expulso, aqui estou de novo; afastado, clamo; maltratado, imploro. Como os cachorros não podem viver longe dos homens, assim também a minha alma não pode viver longe do meu Deus!
Abre-me, Senhor. Que eu chegue a Ti para ser inundado pela tua luz. Tu habitas nos céus, estás escondido nas trevas, na nuvem obscura. Como diz o profeta: «Envolveste-Te numa nuvem para que as nossas orações não Te alcancem» (Lam 3,44). Estanco na terra, o coração como num atoleiro. […] As tuas estrelas já não brilham para mim, o sol obscureceu-se, a lua já não dá a sua luz. Pretendo cantar os teus feitos nos salmos, nos hinos e nos cânticos espirituais; no Evangelho, as tuas palavras e as tuas acções resplandecem de luz; os exemplos dos teus servos […], as ameaças e as promessas das tuas Escrituras de verdade impõem-se a meus olhos e batem na surdez dos meus ouvidos. Mas a minha mente endureceu; aprendi a dormir virado para o esplendor do sol; acostumei-me a já não ver o que assim se me oferece. […]
Até quando, Senhor, até quando tardarás a rasgar os teus céus, a descer para vires sacudir o meu torpor? (Sl 12,2; 63,19) Que eu deixe de ser o que sou […], que me converta e que volte, pelo menos à noite, como um cachorrinho faminto. Percorro a tua cidade, que peregrina ainda em parte neste mundo, embora a maioria dos seus habitantes tenha encontrado a sua alegria nos céus. Também eu encontrarei aí a minha casa?’

Esta meditação caiu-me do céu!

O pensamento foge-me frequentemente para tantos problemas de pessoas que conheço, para os nossos governantes, para o Iraque, para o Santo Padre na sua peregrinação, e não sei mais que poderei descobrir acerca desta passagem do Evangelho!... Talvez o que me falta vá saindo aos pouquinhos do fundo do coração!

Que o Espírito Santo me(nos) ajude!

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