terça-feira, 5 de agosto de 2014
"COMPAIXÃO, PARTILHA, EUCARISTIA"
“Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Neste domingo, o Evangelho nos apresenta o milagre da
multiplicação dos pães e dos peixes (Mt 14, 13-21). Jesus o realizou no Mar da
Galileia, em um lugar isolado, onde tinha se retirado com seus discípulos
depois de saber da morte de João Batista. Mas muitas pessoas os seguiram e os
encontraram; e Jesus, vendo-os, teve compaixão e curou os enfermos até o
entardecer. Então, os discípulos, preocupados com a hora tardia,
aconselharam-no ignorar as multidões para que pudessem ir as aldeias buscar o
que comer. Mas Jesus, tranquilamente, respondeu: "Dai-lhes vós mesmos de
comer" (Mt 14, 16); e levando-lhe cinco pães e dois peixes, abençoou-os e
começou a partí-los e dá-los aos discípulos, que os distribuíram às pessoas.
Todos comeram e ficaram satisfeitos, e até mesmo sobrou!
Neste acontecimento podemos ver três mensagens. A primeira é a
compaixão. Diante da multidão que vai atrás dele e – por assim dizer – “não o
deixa em paz”, Jesus não reage com irritação, não diz: "Essas pessoas me
incomodam". Não, não. Mas reage com um sentimento de compaixão, porque
sabe que não o procuram por curiosidade, mas por necessidade. Mas vejamos:
compaixão - o que sente Jesus - não é simplesmente sentir pena; é mais!
Significa com-patire, ou seja, identificar-se com o sofrimento dos outros, a
ponto de sofrê-los também. Assim é Jesus: sofre conosco, sofre junto conosco,
sofre por nós. E o sinal dessa compaixão são as muitas curas realizadas por
ele. Jesus nos ensina a colocar as necessidades dos pobres antes das nossas. As
nossas necessidades, embora legítimas, não serão nunca urgentes como aquelas
dos pobres, que não têm o necessário para viver. Nós falamos muitas vezes dos
pobres. Mas, quando falamos dos pobres, sentimos que aquele homem, aquela
mulher, aquelas crianças não têm o necessário para viver? Quem não tem nada para
comer, não tem o que vestir, não tem a possibilidade de remédios... que também
as crianças não têm a oportunidade de ir à escola? E por esta razão, as nossas
necessidades, embora legítimas, nunca serão tão urgentes como aquelas dos
pobres que não têm o necessário para viver.
A segunda mensagem é a partilha. A primeira é a compaixão, aquela
que Jesus sentia, a segunda a partilha. É útil confrontar a reação dos
discípulos diante das pessoas cansadas e famintas, com aquela de Jesus. São
diferentes. Os discípulos pensaram que era melhor manda-los embora, para que
pudessem procurar alimento. Jesus, em vez disso, disse: dai-lhes vós mesmos de
comer. Duas reações diferentes, que refletem duas lógicas opostas: os
discípulos pensam de acordo com o mundo, onde cada um deve pensar em si mesmo;
pensam como se dissessem: “Se virem sozinhos”. Jesus pensa com a lógica de
Deus, que é aquela da partilha. Quantas vezes olhamos para o outro lado com tal
de não ver os irmãos necessitados! E esse olhar para outro lado é um modo
educado de dizer, com luvas brancas, “Se virem sozinhos”. E isso não é de
Jesus: isso é egoísmo. Se tivesse mandado embora as multidões, muitas pessoas
teriam ficado sem comer. Pelo contrário, aqueles poucos pães e peixes,
compartilhados e abençoados por Deus, foram suficientes para todos. E atenção!
Não é uma magia, é um “sinal”: um sinal que convida a ter fé em Deus, Pai
providente, que não nos deixa faltar o “nosso pão de cada dia”, se nós o
sabemos compartilhar como irmãos.
Compaixão, partilha. E a terceira mensagem: o milagre dos pães
anuncia a Eucaristia. Isto pode ser visto no gesto de Jesus que "recitou a
bênção" (v. 19), antes de partir os pães e distribuí-los ao povo. É o
mesmo gesto que fará Jesus na Última Ceia, quando vai instituir o memorial
perpétuo do seu Sacrifício redentor. Na Eucaristia, Jesus não dá um pedaço de
pão, mas o pão da vida eterna, dá a Si mesmo, oferecendo-se ao Pai por amor a
nós. Mas nós temos que ir à Eucaristia com aqueles sentimentos de Jesus, ou
seja, a compaixão e aquela vontade de compartilhar. Quem vai à Eucaristia sem
ter compaixão dos necessitados e sem compartilhar, não se encontra bem com
Jesus.
Compaixão, partilha, Eucaristia. Este é o caminho que Jesus nos
mostra neste Evangelho. Um caminho que nos leva a encarar com fraternidade as
necessidades deste mundo, mas que nos leva para além deste mundo, porque vem de
Deus Pai e volta para Ele. A Virgem Maria, Mãe da divina Providência, nos
acompanhe neste caminho.“
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