Porque o primeiro versículo
me faz lembrar profundamente um ente muito querido que está há pouco tempo na
Casa do Pai a quem foi dada uma força e confiança inabalável em Deus que nos
mostrou com o seu comportamento exemplar, e porque o comentário que foi
apresentado me encantou por demais, passo a descrever o Evangelho segundo S. Lucas 9,51-62. Pode parecer repetitivo, mas os
ensinamentos dos Evangelhos são inesgotáveis!
“Aproximando-se os dias
de Jesus ser levado deste mundo, dirigiu-se resolutamente para Jerusalém e
enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa
povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem.
Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém.
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos
que desça fogo do céu e os consuma?»
Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os.
E foram para outra povoação.
Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que
fores.»
Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o
Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.»
E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro
sepultar o meu pai.»
Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai
anunciar o Reino de Deus.»
Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me
despeça da minha família.»
Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não
está apto para o Reino de Deus.»”
Agora, o supracitado
comentário que me chegou da equipa do Evangelho Quotidiano, extraído do Diário
da Alma do Beato João XXIII, de Junho de 1957 antes de ser eleito Papa, e que é
uma esplendida meditação para qualquer pessoa, muito mais quando os anos
começam a pesar na rodagem da vida:
“«Hei-de seguir-Te para onde quer que fores»
«Ao cair da tarde, dá-nos a luz.» Senhor, já chegou o cair da
tarde. Cheguei ao septuagésimo sexto ano da minha vida, desta vida que é dom
absoluto do Pai do Céu. Três quartos dos meus contemporâneos já passaram à
outra margem e eu devo agora preparar-me para o grande momento. A ideia da
morte não me traz inquietude. [...] Gozo de excelente e ainda robusta saúde, se
bem que não possa fiar-me nela. Quero preparar-me para responder pronto! seja a
que chamamento for, mesmo inesperado. Quero que a velhice – outro grande dom de
Deus – seja para mim motivo de silenciosa alegria interior, de abandono
quotidiano ao Senhor, para quem me volto como uma criança que se lança nos
braços abertos do seu pai.
A minha vida simples e (posso dizê-lo agora) longa desenrolou-se como um novelo
sob o signo da humildade e da pureza. Não tenho custo nenhum em reconhecer e
repetir que não sou nem valho absolutamente nada. Foi o Senhor que me fez
nascer de gente modesta e pensou em tudo; eu apenas em tudo consenti. [...] É
bem verdade que «a vontade do Senhor é a minha paz». E ponho toda a minha esperança
na misericórdia de Jesus. [...]
Suponho que o Senhor me reserve, para minha mortificação e purificação e para
poder ser admitido na alegria eterna, qualquer grande pena ou aflição do corpo
ou do espírito antes de morrer. Pois bem, aceitá-la-ei por completo e de bom
grado, contanto que tudo seja para glória de Deus, o bem da minha alma e o dos
meus queridos filhos espirituais. Receio apenas a fraqueza da minha resistência
e peço-Lhe que me ajude na minha pouca e quase nula confiança própria, antes a
pondo toda no Senhor.
Há duas portas para entrar no Paraíso, a inocência e a penitência. Quem poderá
presumir, homens fracos que somos, poder encontrar a primeira aberta de par em
par? Quanto à segunda, é certa. Jesus passou por ela com a cruz aos ombros para
pagar pelos nossos pecados e convida-nos a todos a segui-Lo. “
Sem dúvida que a plena confiança
em Deus é fortaleza absoluta! Estas palavras de João XXIII, onde em algo me
reconheço, são para mim uma maravilha das maravilhas que eu tenho que reler e
meditar muitas vezes!
Ajuda-nos(me), Senhor,
com a força do Teu Santo Espírito, a ter sempre presentes em todas as atitudes
da vida estas suas portas que tanto necessito de encontrar verdadeiramente, a inocência
e a penitência!
Sem comentários:
Enviar um comentário