Hoje… algo me diz para quedar-me no
Evangelho do dia, Jo 16,16-20… dia faz tempo considerado Santo por ser
determinado a festejar a “subida” de Jesus para o Pai ou Ascensão de Jesus ao
Céu, ou melhor dito, o desaparecimento físico de Jesus entre os homens, o fim
da vida terrena de Jesus!
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: «Ainda um pouco, e deixareis de me ver; e um pouco mais, e por
fim me vereis.»
Disseram entre si alguns dos discípulos: «Que é isso que Ele nos diz: 'Ainda um
pouco, e deixareis de me ver, e um pouco mais, e por fim me vereis'? E também:
'Eu vou para o Pai'?»
Diziam, pois: «Que quer Ele dizer com isto: 'Ainda um pouco'? Não sabemos o que
Ele está a anunciar!»
Jesus, percebendo que o queriam interrogar, disse-lhes: «Estais entre vós a
inquirir acerca disto que Eu disse: 'Ainda um pouco, e deixareis de me ver, e
um pouco mais, e por fim me vereis'?
Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que
o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de
converter-se em alegria!”
O comentário do Evangelho Quotidiano
a estes versículos de São João extraído dos sermões de Santo Agostinho
(354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja, na sua íntegra,
diz assim:
“«Eu hei-de
ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se»
Diz o Senhor:
«Ainda um pouco, e deixareis de Me ver; e um pouco mais, e por fim Me
vereis» (Jo 16, 16). Aquilo a que Ele chama pouco é o nosso tempo
actual, acerca do qual o evangelista João declara na sua epístola: «É a última
hora» (1Jo 2, 18). Esta promessa [...] diz respeito a toda a Igreja, como
também esta outra promessa: «E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo»
(Mt 28, 20). O Senhor não tardará em cumprir a Sua promessa: dentro em pouco,
vê-Lo-emos e deixaremos de ter súplicas a fazer-Lhe, perguntas a dirigir-Lhe,
porque deixaremos de ter que desejar, de ter que procurar.
Este pouco parece-nos muito porque ainda está a decorrer; quando tiver
terminado, perceberemos quão curto foi. Que a nossa alegria seja portanto
diferente da do mundo, sobre a qual está dito: «O mundo há-de alegrar-se.» Ao
dar à luz este desejo, não sejamos sem alegria, mas como diz o apóstolo Paulo:
«Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação» (Rom 12, 12). Porque a
mulher que se prepara para dar à luz, com a qual no Senhor nos compara,
rejubila muito mais com o filho que vai pôr no mundo do que se entristece com o
sofrimento por que tem de passar.”
Perante tudo isto que se pode ler e
em que se deve meditar… olho para mim e questiono-me ininterruptamente!
Como ser criança, jovem e adulto
menos maduro, não conseguia compreender este diálogo de Jesus com os Apóstolos…
diálogo que ao longo dos tempos Jesus vai fazendo comigo e com todos os homens
e mulheres que em cada época vão recriando e repovoando o mundo!
E acho que, por fim, acabei por
compreender, minimamente!
O tempo que decorre, é o dia de
“hoje”, esta hora, este momento presente… que está sempre integrado nos
“últimos tempos”!
O último tempo de cada pessoa neste
mundo material é o momento da morte física que ao certo nunca saberemos quando
será, por isso, irremediavelmente, estaremos sempre nos “últimos tempos” da
nossa vida!
Então, urge estarmos preparados, ou
melhor, irmo-nos preparando, aos poucos, através de uma vida de trabalho cada
vez mais intenso e digno, e de uma vida de mais estudo, meditação, de interesse
pelo bem-estar comunitário, de busca de humildade, entrega, doação, serviço,
dádiva de AMOR a Deus e aos irmãos… para poder sobreviver condignamente neste
mundo onde nos é dado viver… e tentar recear menos a iminente partida, em
qualquer época em que surja, porque, sendo a vida nossa… não somos donos da
nossa vida, pois é de Deus!
Agora… o contraste entre morte e
ressurreição!
Sim, o contraste, porque morte e
ressurreição andam sempre (inter)ligadas!
A morte é sempre dor e sofrimento,
um sacrifício, um fim; a ressurreição é sempre uma situação nova, um começo, a
mudança para uma vida melhor ou mesmo boa ou muito boa!
A morte do pecado ou más ações é o
fim do pecado ou das más ações… e consequentemente o início e perseveração de
uma vida na graça de Deus, uma ressurreição que teremos de procurar diariamente
em todos os momentos de todos os dias… numa luta constante, morosa e duradoira!
Não podemos ter ilusões!
É muito difícil termos de encarar a
mudança constante de atitudes para entrarmos numa situação constante de vida
ressuscitada em Deus, em graça, pois exige a morte de muito do que somos para
nos irmos transformando, aos poucos, no que devemos ser e Deus sonhou para nós…
sempre e sem parar, até à chegada da dificílima morte física… a separação de
nós (da alma) de nós mesmos (corpo) e do espaço onde vivemos e dos amigos com
quem convivemos, pois sem essa morte física nunca poderemos ver Jesus nem
ressuscitar com Ele para a vida eterna que Ele tão intensa e vivamente nos
prometeu!
Que o Espírito Santo, Vida da Vida,
nos ajude a compreender, a aceitar e a conviver, calma e serenamente, com estas
difíceis realidades!
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